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BIOGRAFIA DE

JOÃO GIBSON

João Gibson nasceu em Recife e foi o sexto  filho de Alfredo e Heraclydes Britto, neto de Alfred e Francisca do Rego Barros, bisneto portanto de Henry Gibson. A década de 30 encontrou  João Gibson ainda bem jovem, filiado ao PCB – o Partido Comunista Brasileiro.

 

Em 1935 o Partido, liderado por Luis Carlos Prestes, organizou uma revolta a nível nacional objetivando a tomada do poder pela deposição de Getulio Vargas, na época ditador do Brasil. Este movimento foi denominado de “A Revolta Vermelha de 35” ou  “A Intentona Comunista”.  Como filiado atuante, João Gibson foi um dos que  “pegou em armas” e saiu “dando tiros” pelas ruas do Recife.  Participou de forma efetiva da Revolta.

 

Foi justamente durante esses dias de turbulência que minha avó paterna Aline faleceu (ela foi casada com Arnaldo, irmão de João), vítima de infecção puerperal.  Durante o Movimento, uma verdadeira batalha acontecia entre os revoltosos e os legalistas. O Recife dividido, estava com as estradas e avenidas bloqueadas, por ambos os grupos e o caixão teve que ser colocado em um caminhão, saindo tio João à frente, abrindo caminho entre os revoltosos.  Não conseguiram permissão para entrar na área que os legalistas dominavam e vovó teve que ser sepultada na Igreja do Bairro Afogados, limite da área dominada pelos revoltosos.

 

No seu leito de morte, vovó como se adivinhasse, dizia: “Não me enterrem em Afogados! Me levem para o Cemitério de Santo Amaro”.  Impossível. Vovó foi sepultada em Afogados. Por causa deste fato vovô Arnaldo sempre repetia: “morto não tem vontade!”

 

Quando “teen age” a caminho do Colégio Salesiano, gostávamos de contar quantos buracos de bala de fuzil conseguíamos encontrar nos antigos postes de ferro da Rua Barão de São Borja. Então sempre tinha alguém recordando a Revolta Comunista.

 

 Mas este movimento só teve alguma expressão em Recife, Rio e Natal e terminou por fracassar. A resposta de Getulio Vargas foi imediata e com mãos fortes.  Após derrotá-los, Vargas decretou estado de sítio e uma forte repressão aos envolvidos na Intentona Comunista. Tio João foi preso e condenado. Cumpriu a maior parte da pena na Ilha de Fernando de Noronha.

 

As condições da Ilha de Fernando de Noronha eram bem piores que as da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Segundo Graciliano Ramos, no seu livro “Memórias do Cárcere”, para receber os condenados, existia na Ilha apenas uma grande área, coberta por palhas de coqueiro e aberta nas laterais, onde os apenados dormiam. Recebiam apenas 1 refeição diária e tinham que plantar para proverem a subsistência.

 

Minha avó Aline tinha um irmão, Adamastor Lemos, que era cirurgião no Recife daquela época. Vovô Arnaldo sempre conseguia com o cunhado que tio João viesse para o Recife com a alegação de necessitar  fazer tratamento de saúde. No hospital, mesmo sendo da Rede Pública, o tratamento era considerado VIP comparado com o da Ilha. Tio João fez todas as cirurgias possíveis e imagináveis. De unha encravada à hérnia. Sobreviveu tanto ao cárcere quanto às cirurgias e conseguiu cumprir a pena.

 

De volta à sociedade, o único emprego que conseguiu foi o de operário em um cotonifício. Seu turno acabava as 18:00 horas. Saindo da fabrica, um carro da polícia o esperava e o levava até a delegacia do bairro, onde ficava sentado num banco. Às 22 horas, após passar o último trem que poderia leva-lo à casa de sua mãe, onde residia, era liberado e tinha que andar mais de 1 hora até chegar em casa. Eram ordens de Etelvino Lins, chefe da Polícia Política em Pernambuco no Governo Vargas.

 

Vencido pelo cansaço físico e pela humilhação diária, capitulou. Vovô Arnaldo, que era muito bem articulado, conseguiu então que o irmão fosse ser o responsável pelo ECAD (direitos autorais) em Natal, RN. Lá, além de tio João ser um desconhecido, tinha sido um local onde o movimento comunista tinha sido muito forte, com a instalação até mesmo de um governo Provisório, por parte dos rebeldes e então existia muita tolerância para com os comunistas no Rio Grande do Norte.

 

Na história dos Gibsons  ingleses, Bob Calvert nos conta uma história muito semelhante que aconteceu com Jonathan Gibson. Jonathan, operário, fez parte de um movimento social denominado Cartismo, que lutava por avanços sociais. Este movimento foi precursor dos sindicatos e das cooperativas e lutava na época por situações que fazem parte de nossa vida hoje. Jornada de trabalho, salário mínimo, direito a voto, extinção do trabalho infantil, etc... Jonathan, que foi um dos dirigentes do Movimento Cartista da região de Manchester, fez parte de uma grande greve, foi preso e perseguido. Também teve que mudar de cidade.  Cem anos separam Jonathan e João, mas com uma história muito semelhante.

 

Em Natal tio João afastou-se da política e com sua esposa Olga Dutra, criou a família. O casal teve três filhos: Ayron, Ariette e Aildo. Seus descendentes encontram-se fixados em Natal.

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Heraclydes (de pé, atrás de José) com os filhos: Arnaldo, Nair, José, Oscar, Maria e João Gibson

 

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Os irmãos:  Nair, Arnaldo, Maria e João Gibson

 

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Os primos: João Gibson Neto e Gustavo Gibson, no Catamarã Sossego. Natal (RN) em 2015

 

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